29 de março de 2007

Capítulo Três

No canto sujo do apartamento sem luz

O apartamento de Fernando era realmente sujo e dividia, no corredor, vários escritórios de advogados e de lojas de bijuterias. A família Machado tem um nome bom a zelar. Todos advogados, pai, mãe e três irmãos. Fernando é o caçula e, indiscutivelmente, o mais frustrado. Formado em direito pela faculdade federal, o músico ganha a vida nos trocados dos bares no final de semana.

A grana, que não é muita, serve para duas coisas oficiais e outras tantas. Uma delas é o pagamento do condominio e água, as outras coisas se resumem a cervejas, cigarros e outros psicotrópicos. O escritório dado pelo pai de presente de formatura, se transubstanciou. Agora é um quarto-sala-cozinha meio aberto e sem divisórias. Não há energia, não sobra dinheiro. Falta muita coisa por lá. Panelas, é um bom exemplo disso. Mas não há do que se queixar. Fernando continua a levar a vida como se a adolescencia nunca fosse embora. Algo preocupante para quem já bate as portas dos trinta e não está contente com a situação.

Aprendera com o pai a gostar de música. Cada personagem da vida tem suas frustrações. O pai era músico quando jovem e adora o estilo de Crosby, Still, Nash e Young. O álbum Dejá Vú, fez sua adolescencia ser, no mínimo, excitante, por falta de palavra melhor. Woodstock e Carry On, embalavam o sono de Fernando quando ele era um pequeno bebê naquele ano de setenta e cinco.

E agora que os trinta estava claro no rádio de pilha velho que só tinha um toca-fitas, Fernando só ouvia uma só gravação no velho tape que o pai lhe dera quando a música começara a significar algo para o rapaz. Tranquila e emocionante em suas nuances. Bom era acender um tabaco e sentir fluir do corpo a essencia que a música lhe proporcionava. Mas últimamente CSNY só lhe traziam lembranças de âne.

O homem ficou bastante contente em ajudar a amiga no momento de infortúnio que ela sofria. Mas também lhe preocupava pela falta de animo para com a vida. A dele, também, era sofrida, mas não importava muito. Ele tinha a música para guia-lo nos momentos difícios. Mas e ângela? Isto o angustiava. Os meses passavam rápido naquele apartamento, as roupas acumulavam para lavar, o dinheiro não sustentava mais nem o consumo das velas, única fonte de energia da casa. E com isso as brigas.

Todos os dias, ele dizia como um mantra em declaração a amiga querida:"Garota, você não pode passar a vida inteira sentada nas almofadas das angustias e esquecer que o dia está bonito, e a noite sempre tras bons presságios! Levante! AGORA!". Mas âne nao reagia. Não tinha vontade. Não queria. E somente a música embalava os pesadelos em que eles viviam. Num apartamento-ex-escritório-sujo no centro da cidade.

28 de março de 2007

Memórias de um dia Contente

O sol brilhava forte, com cheiro de dor de cabeça no ar. Veio correndo, em direção ao casal, como uma espuletinha uma menina com rostos inflamados de suor e que gostava muito de gatos. Pretos, brancos, rajados de cinza.

Pobre menina que se desiludiu ao saber que a gata não era gata. Era macho e nem soube porque. Tadinha da menina com cabelo cor-de-mel, cara-de-sapeca e jeito de moleca. Ela que gostava tanto de gatas não sabia que uma diferença os separavam de ser um ou uma.

E a mulher que já está grandinha só sabia saborear godões-doces no céu e terminar com ilusões proprias da infancia desde mocinhazinha na cidade da terra batida. Naquelçe tempo o papai noel era gordo e tinha barba de verdade, coelho da pascoa trazia bombons ao inves de ovos de chocoçate e bonecos não falavam.

Quem estava por trás de tudo isso era o homem, que ao ver a menina e a mulher lado a lado só sabia que sorrir é mais gostoso, e talvez mais saboroso, que sentir saudades frustradas de qualquer dia sem sol.

26 de março de 2007

Capítulo Dois

A esmo, ou o relato de ângela em primeira pessoa, antes do prédio

"Estive caminhando pela cidade. Meio grogue meio alta, sem saber ainda porque diacho havia parado naquele bar e tomado aquela cerva. Não, isso não é um momento de arrependimento, só frustração por ter esquecido como tudo começou. E por falar nisso, vamos ao relato: imagine a cena. Garota alta, vinte e oito anos, porte de modelo do zimbabue, desempregada, trajando apenas chinelas gastas, um pano que um dia muito distante foi chamado de calça jeans e camiseta preta, preta.

O que uma pessoa como essa faria num bar em plena terça-feira? Bom, neste caso, a desilusao de ter perdido emprego e 'casa' ao mesmo tempo havia me levado a tomar uma(s) dose lá no butequim do Seu Geraldo. Comecei cedo ainda, nao eram nem dez da noite quando Fernando me chamou para conversar. Ele percebera a constatação do óbvio que minha face apresentava no momento. E resolveu me ajudar. "O que foi minha pequena?".

Comecei falando do desemprego imediato. Trabalhei na loja da martinha a minha vida toda. Nem sei direito como e quando comecei lá. Mas faz muito tempo. Acho que ainda estava no colégio quando aconteceu. Lá eu vendia de tudo, desde de peças de lã para confecção de tecelagens a cds piratas de bandas que nao falam a minha lingua.

A notícia veio logo cedinho. Martinha olhou para mim e disse sem dó: "âne, não dá mais. Sei que você é eficiente, mas vou fechar a loja". Perguntei a razão e ela disse com um belo sorriso no rosto: "Tô voltando pra minas. Minha mae morreu e me deixou uma bolada. A loja tá fechada e já vendi para o tal empresário do prédio grande. Ele vai transformar o espaço em um edifício de escritórios."

'Me encontro aqui, agora, neste exato momento, sem logradouro, sem comida, sem dinheiro, sem trabalho, sem perspectiva. Tudo bem, nunca tive perspectiva mesmo. Tava resignada em passar o resto da minha vida vendendo quinquilharias numa loja de quinta, mesmo'. Mas Fernando desacreditava na história da garota. Mesmo sem um lugar para ir, ele deveria ajudá-la também.

Caso ela recusasse a oferta de morar no apê sujo que ele chamava de lar, não custava tentar chamá-la. E foi o que aconteceu. Depois daquela bebedeira, o casal pegou as trouxinha de roupas e pertences de ângela na lojinha de Martinha e não decidiram mais o que fazer dali por diante. E durante muito tempo foi a esmo que ela viveu.

25 de março de 2007

Assim que eu encontrar um bom tatuador nesta cidade, isto aí em baixo, fará parte da minha coxa esquerda.



Arte de Stephanie Pui-Mun Law, uma das desenhistas dos BGs de Wizards of the Coast, HarperCollins, LUNA Books, Tachyon Books, Alderac Entertainment, and Green Ronin.

23 de março de 2007

Sabe?

Tem muita gente no mundo

Tem gente que não sabe.
Tem gente que fala até de mais.
Tem gente que não se acostuma a ter saudades.
Tem gente que sente muito o tempo todo.
Tem gente que mexe com a cabeça da gente e nem parece notar.
Tem gente que tá o tempo todo gritando por gritar.
Tem gente que parece estar em todas as partes.
Tem gente que não está em parte alguma.
Tem gente que olha e encanta.
Tem gente que fere ao olhar.
Tem gente que diz em silencio.
Tem gente que precisa de calma para pensar.
Tem gente como eu e você.
Tem gente que é você e eu.
Tem gente que nunca termina de escrever.
Tem gente que não respeita a escrita de ninguém.
Tem gente que adora fazer listas.
Tem gente que está fazendo uma agora.
Tem gente pra todo lado.
Tem gente que não gosta do lado que está.
Tem gente... muita gente.

--
Espaço curvo e infinito
(José Saramago)

Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.

20 de março de 2007

'Compro ideias de outras pessoas para construir uma memória minha.'

Querido Diário,

("Este será um breve relato de como tem sido alguns dias, antes de postar anedotas sem sentido algum para os leitores deste fuckin' diário." )

As coisas vão bem, no mundo de cá. Nunca tive um tempo só meu, onde pudesse reajustar minhas funções para com o universo e para com meu coração. E por falar em coração, o meu vai bem obrigado. Tem estado cada vez mais contente com a presença da paixão. Acho que estou indo bem neste campo, sem altos e baixos para atrapalhar o mundinho circular que sempre me encontrei. Tenho certas dúvidas, mas sinto informar-lhes que elas se solucionam com a mesma velocidade que aparecem. Acho que estou crescendo.

O trabalho não dá tregua. Volta e meia aparece algo para fazer e, sempre, de última hora para não perder o costume. Tudo bem, até que me acostumo rápido com o sofrimento. Principalmente se ele é meu. Mesmo assim não deixo de sair sempre que posso. E devo. Sinto falta do ritmo de trabalho do semestre passado. Mas tudo a seu tempo.

Por falar em sofrer, confesso que não tenho muito pra falar sobre. Não brigo mais com minha mãe, tão pouco com yara (pessoa que vejo muito pouco). Mas minhas pelejas noturnas com dudu tem aumentado a quantidade de cicatrizes nos meus braços e pernas. Devo parar de disputar com meu gato quem 'azunha' mais. Sem tristezas para contar. Meu coração está sempre por perto quando preciso.

Bem, sem mais. Ou não. Quem sabe?

14 de março de 2007

Beck – Mongolian Chop Squad

Calça jeans, guitarra Gibson e música, tudo o que se pode querer quando se é adolescente. Ou quase. No caso do desenho Beck este quase vale muita coisa. No anime, lançado em 2004 pelo estúdio MADHOUSE, a ambição não é somente ser o melhor em tudo, como na maioria dos casos entre os adolescentes japoneses, é mais que isso.

Tanaka Yukio, mais conhecido como Koyuki, é um adolescente normal, sem muitas preocupações, além das notas do colégio. Tudo muda quando ele salva o cachorro Beck de um linchamento. O dono do animal é Ryuusuke. Um japonês que viveu muito tempo nos EUA e não conhece muito da língua natal.

Ray, como é conhecido, é guitarrista e pretende formar a melhor banda de todos os tempos. Mais até que Dying Breed a sensação do momento no Japão. Depois de muitas tentativas frustradas o rapaz escolhe a dedo os companheiros de banda. Para entrar nessa empreitada não precisa, necessariamente, ser bom. O pré-requisito é tocar com o coração e transformar a música em estilo de vida.

Em um ano Koyuki aprende a tocar guitarra, com muito incentivo de Ray que está de olho no talento do rapaz. São dois anos corridos em toda série. Neste tempo, os personagens crescem musicalmente, com ganhos também na vida social e pessoal. Tem momentos em que se pode confundir o desenho com seriados americanos que tentam retratar fielmente a vida real.

Beck consegue ser simples com uma linguagem rebuscada. Hit in América, o single de abertura representada aqui na performance de Beat Crusaders, transforma cada capítulo em um show a parte. Referências a bandas como Rage Against the Machine, ao próprio Beat Crusaders e a participação especial de The Pillows [banda de punk-fella-rock japonesa] nos capítulos finais dão um toque a mais na produção.

São 26 episódios, que devem ser assistidos acompanhados de coca-cola, guitarra e allstar. O desenho alcança o auge no momento preciso, além ser uma tentação aos aspirantes a musicistas espalhados pelo mundo afora.

13 de março de 2007

Um causo, eu te conto!

Acordo bem cedo, mesmo assim o café já não está mais na mesa. Aqui as pessoas acordam antes da aurora. E deve ser por isso que se comportam de maneira tão sadia. A mãe pergunta se está tudo bem. Respondo com cara de enxaqueca e vou logo tomando o remédio. O chá é a melhor opção, mas prefiro o paracetamol. O dia estava muito quente para se ficar em casa. Então ainda com o sol das oito pego Marley no colo e pergunto se quer andar de bicicleta. "Vamos então!", vamos. O mp3 na cintura, uma calça colada preta com uma blusa bem aberta a tira colo e uma câmera fotográfica de bônus no pescoço.

Seguimos em direção ao pequeno colégio. Lá não tem muros. Esta é a razão principal para que João, o pai dos meninos, resolvera matricular-los um pouco mais distante de casa. 'Sabe, um colégio tem que ter regras, e se não tem muro, como as crianças vão brincar no recreio sem que nada aconteça a elas?'. Concordo, em partes. Seria interessante estudar olhando para um janela que dá de frente a 'movimentada' ruazinha de Brasil Novo. Mas não era sobre isso que estava falando.

Depois da primeira curva, onde tem um orelhão telemar que mal funciona, passamos em frente ao Buteco do Pereira. Os homens ainda estão no trabalho e o local se encontra apenas com cachorros em frente. Estão desnutridos, mas não perdem tempo ao ver-nos de bicicleta e nos seguem por alguns instantes. Marley tá bem mais rápido que eu, e começo a preocupar-me com isso. Meus pulmões respiram o ar puro, literalmente. E, então, transpiro. Fico em estado ofegante. É quando resolvo parar com a desculpa de ter visto uma árvore bonita. O menino se convence quando pego a câmera e vou logo apontando para meu objeto. "Tira uma foto minha?". Dou uma desculpa que farei isto mais tarde e ele se satisfaz. Por enquanto.

Já estamos bem longe de casa. Subimos uma ladeira ingrime. Foi neste ponto que tive de descer da minha montaria. Estou cansada. O sol subia rápido quando percebi que já se passava das dez. Corremos muito para alcançar o almoço que estava quase no ponto. O sapequinha foi correndo pra mesa com a desculpa que tava morrendo de fome. Mas era só molequice. A mãe vai logo gritando que temos de guardar as bicicletas e lavar as mãos. Ele obedece a segunda ordem, enquanto vou fazer jus da primeira. Guardo a bicicleta, e resolvo olhar pra trás. Lembrei onde estava, na terra sem lei, e dos avisos alarmados dos amigos que me preveniram para não ser tão indulgente fora de casa. Mas para que desculpar-me com a minha memória. É só mais um dia de calor com estórias de terra com árvores gigantes.

12 de março de 2007

Resgatando velhas postagens (já que o blogger resolveu apagar o texto bonito de hoje). Eu sempre escrevi assim, ou é impressão minha? Lembranças de uma adolescencia feliz e perdida entre 2003 a 2005 no blog da avalyn.

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Um dia vou escrever um livro de proverbios.
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(...) estou tao absorta em meus próprios conceitos que escrever está se tornando a arte de falar bobagens.
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eu sou uma troglodita que come criancinhas no almoço e palita os dentes com lanças de ferro.
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Musica é a fluencia do corpo, do ser e da alma.
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se sinto falta: olho para minhas mãos.
se estou desconsolada: escrevo.
se não consigo ir adiante: escuto paul simon
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o sonhar é ultrajante.
nao gosto.
pra falar a verdade, tenho pavor.
meus sonhos estao, cada vez mais, confusos.
nao gosto.
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existe tanta coisa para se contar.
mas muitas que não sei como escrever.
tanto faz, o tempo acabou mesmo.
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sabe aquela angústia de não ter completado algo?
pode ser disso que meu figado sofre.
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a força se exauri, some, não volta. É como as estrelas que deixam de aparecer no céu. Elas morrem e ninguém fica sabendo quando.
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As vezes tombar sobre a grama depois de um longo dia de batalha não parece tão terrivel assim.
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Cheiro de químicos, estafa e roupa suja.
Ser ou nao ser alguém na vida, vai fazer diferença para alguém?
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As pessoas podem ser distantes, voluntariosas, chatas, mas no fundo todos somos um só. Mesmo sangue, mesmas angustias.
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sonetos de mulher

mulheres em pátrias distintas dialogam com seus conflitos.
uma igualdade conhecida apenas pela sofrida vida.
algo dedicado a cada uma.
e somente por elas.
vida e seu fim.
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desvirtue-se. Enquanto há tempo.
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Verdade seja dita, que a felicidade é [e somente é] uma singularidade dentro de uma existência. Como as plantas. Elas são felizes. Tem água, luz e as vezes admiradores. Não precisam de dicionários, faculdades e nem namorados. Ficam ali, esperando o tempo passar, com toda a paciência do mundo.
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engraçado como o mundo gira rápido. Um dia vc conhece. No outro não respeitam suas opiniões. Em um terceiro a paixão é arrebatadora. E no último nunca mais voltam a se encontrar.
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Factual [ponto] O ato em si de cada performance [vírgula] que tende sempre ao improviso o exuberante [ponto] Foi me dito uma vez que se o homem não descansa ele não poderá levar seu fardo para sempre [ponto] Tendo em vista este comentário [virgula] o que pode ser dito de uma situação constrangedora a uns [virgula] displicente para outras [virgula] ou simplismente inexistente é que [dois pontos] não pode ser dito nada [ponto]
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e por fim:

Mas não era sobre isso que falava. Era sobre outra coisa. Algo que vocês não compreenderiam. Algo que nem eu sei escrever o que é. Ou como chegou a mim. Algo assim... sabe?

9 de março de 2007

horóscopo Leonino
Então leonina, finalmente está conseguindo ver além do limite do horizonte? As coisas começam a se abrir, mas não deixe que o entusiasmo lhe pregue armadilhas.

Dica do dia
Mesmo sabendo que está encantando e agradando onde estiver, é bom não ficar tão envaidecido disso. Pés no chão sempre!

Me escondo atrás de uma cortina de vidro. E apenas saio para ver quem quer que seja. Esteja onde estiver, dentro ou fora, aqui ou acolá, sempre perto e do lado esquerdo do peito. Encanto, sorriso e prosa. Bom estar, deixe estar. Domingo é dia de índio, e todos nós estaremos lá para celebrar. Um brinde!

cheers... =)

--
Dia da Mulher /oitodemarço.
Recebo por email e compartilho



Mais Alto


Mais alto, sim! mais alto, mais além
Do sonho, onde morar a dor da vida,
Até sair de mim! Ser a Perdida,
A que se não encontra! Aquela a quem

O mundo nao conhece por Alguém!
Ser orgulho, ser águia na subida,
Até chegar a ser, entontecida,
Aquela que sonhou o meu desdém!

Mais alto, sim! Mais alto! A Intangível
Turris Ebúrnea erguida nos espaços,
A rutilante luz dum impossível!

Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber
O mal da vida dentro dos meus braços,
Dos meus divinos braços de Mulher!

Florbela Espanca

7 de março de 2007

Vá para a janela. Veja, estão lá. Todos eles e elas. Confusos, completos e arredios. Estes traços que no céu ficam e que tantos buscam todos os dias. Somos buscadores de deslugares. E é bom se sentir assim. Godões-doces do meu céu iluminado pelos raios-de-sol do bom humor profanador. Vicie-se e não saberá mais sobre-viver, onde quer que esteja, sem o puro e o simples. Sinta os pingos-de-chuva e a terra sujar os jeans e não se importe com seus dead-lines. Eles não servem para muita coisa mesmo. A não ser que o mediano reja a rotina e nada mais será interessante como aqueles olhos de criança.

5 de março de 2007

Versinho desgostoso

De malumor. Com péssimo sabor. Suja por dentro. Com o pé de cheiro. Sinto falta de nada, com excesso de tudo. Não gosto, não quero, não faço. Bato o pé até dizer chega. Gorda, estafa e sem rebolado. De três em três, tudo junto no mesmo parágrafo. Quem precisa das regrinhas, quem está com elas! Livrem-se disto, por favor. Não posso mais. Cansei. Voltei. Tudo. Pro começo. Perdi a noção de meus passos. Como faço? Tenho que ir? Não quero. Mas já?! Diga-me uma coisa. Sei lá. Faça-me assim. Não quero de lado. Como? Perdão! Desculpas...

De malumor, definitivamente.
É para lá beeem longe que eu vou e sem dizer so long.


De presente pro passado

Passado enterrado. Morto ele volta apenas para assombrar. Mas quem tem medo do que um dia viveu,
é porque não viveu o suficiente para estar contente com o agora.
Belo passado que me assombra. Volta para me puxar pelo pé. Olhe para mim monstro sem face,
só para poder disparar meu revolver em seu vulto insosso.

3 de março de 2007

Trivial e constante, é como o universo está conspirando. E assim que o seguimos. Pequenos atores contribuindo para a concepção de grandes feitos, sem nos esquecermos que pequenos (ainda) somos. A base da juventude é sempre a tranquilidade. Apesar de loucos em pequenos instantes, não deixamos que isto se perpetue em todos os aspectos. Somos simples e puros. E isto basta para estarmos felizes boa parte da semana.
Contribua para a continuação desta saga. E provavelmente você também poderá compartilhar deste sentimento. Livre, desempedido e suave. É como passear com seu animal de estimação no calçadão e perceber que as pequenas nuvens lá do céu podem ser formas abstratas, desenhadas pelo calor, ou ainda desenhos com linhas firmes que Ele ou Ela fazem para nos agradar. E conseguem, como conseguem!

Respirar e andar,
beber coca-cola e suspirar.
É bom se sentir em casa novamente.
Muito bom.
Ôbá!

1 de março de 2007

De Presente

Sinto a saudade como um choro de criança.
Melodioso, distante e sem fim. Porém, dura apenas um instante.
Volto entao ao mundo do pensar e pergunto-me quando seria a hora de partir ou deixar o telefone desligar. Mas ainda não é hora, ainda não é o momento.
Deixo então a agua do mar limpar os meus pés e sigo adiante na orla.
Sempre ao lado. Sempre perto.

-
Papai, há muitos anos atrás

"Sinto o vento balançar os meus cabelos,
Sinto a brisa em meus olhos,
Sinto teu cheiro a um quilometro.

Sinto apenas sua presença, mas você ainda está tão longe,
porque nao vem até a mim?

porque você nao vem nao vem nao vem
ouço você me chamar me chamar me chamar

(...)

Não consigo segurar o meu pranto,
que se desenvolve suave como a um a musica,
rolando nas pedras, batendo nas folhas das arvores"



Frase 'presente' da tarde:
"Nada é tão ruim quanto aprender a esquecer de quem se aprende a gostar"
Marcus Vinícius Leite
a doçura de teus olhos.
o brilho das estrelas.
caminhar de pé no chão.
sentir os pingos-de-chuva.
respirar bem fundo de manhã cedo.
dar bom dia para o sol.
dar boa noite para a lua.
perceber a felicidade circundante.
estar bem consigo mesmo.



todos os dias. esta é minha prece. qual é a sua?